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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Páginas da Vida


Por Daniel Soares

"... Assim são as páginas da vida, como dizia meu filho quando fazia versos, e acrescentava que as páginas vão passando umas sobre as outras, esquecidas apenas lidas"  (Machado de Assis).
Um dia desse a caminho da biblioteca, comecei a lembrar-me dos tempos da minha adolescência. Aquela fase marcada por travessuras, pois é, mas não se engane amigo, eu sempre fui um garoto politicamente correto.
Ao chegar à biblioteca pública, avistei na estante um livro que me chamou a atenção, não era para menos, teria lido aquela obra há anos. E mesmo com o passar do tempo, pude notar que as lembranças continuavam vagarosamente em minha memória. No entanto, não me lembrava do final daquele livro.
Reler aquele livro foi como retornar ao tempo que ainda era um estudante, mas confesso que teve um prazer diferente, sem aquele sentimento de ler por um dever ou obrigação, mas de ler para reviver aqueles momentos que ficaram marcados pelo tempo.
Ao mesmo instante em que eu lia, os personagens iam tomando vida em minha memória, como se naquela história eu estivesse ali de alguma forma, não sei se exatamente como pessoa ou como personagem, simplesmente estava ali. Isso tudo poderia ser apenas fruto da minha nostalgia, daqueles bons tempos em que me preocupava apenas em conseguir boas notas e assistir “Tom e Jerry” nas manhãs animadas da Rede Globo.
No entanto, é bem verdade que nunca fui amante da leitura, mas aquele romance por ser o único, talvez, me aguçou o interesse de ler página por página. Essa pode ser a explicação, mas como se não bastasse a identificação com o livro era inevitável.
Ainda jovem poderia ter me entregado mais ao mundo da leitura, aos romances machadianos ou a “A Hora da Estrela” de Clarice Lispector, ao “Cortiço” de Aluísio de Azevedo ou até mesmo a José de Alencar com suas “Senhoras”. Mas não conhecia o prazer da leitura, talvez descobrisse hoje nas entrelinhas tão viva deste romance em que leio.
A verdade é que o tempo passou, e agora relato um pouco da minha juventude, um pouco das páginas amarelas que li ainda adolescente e que fizeram parte da minha história. Acho que sinto falta dos livros que não li, e confesso que acho muito estranho a sensação de sentir falta de algo que não aconteceu, mas a momentos na vida que deixam saudades apenas pelo fato de não terem existido, não é mesmo?

Vitória da Conquista, 24 de fevereiro de 2011

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