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terça-feira, 5 de abril de 2011

A SAUDADE ME FERIU


Pedro Macuco

 Outro dia andava pelas ruas da cidade e minha memória reviu algumas lembranças de coisas que vivi, de pessoas com quem convivi, de lugares por onde andei e de algumas músicas que nunca mais ouvi. Fiquei deveras preocupado como poderia, às três da tarde de um dia comum, sair por aí relembrando o que já se foi. Isso deve ser feito num sábado à noite, num domingo modorrento ou num feriado perdido em qualquer dia da semana. Mas numa terça-feira qualquer é sinal de que a situação não anda nada boa para meus sentimentos. Você pode até achar que estou ficando maluco ou sem ter o que fazer, mas não é bem assim. Sou de uma escola onde se ensinou a massacrar o coração com nostalgia e viver perambulando pelos quatro cantos da cidade em busca do que se foi e, certamente, nunca mais voltará. Os mais concretos, menos sonhadores dirão friamente: "isso é saudade, cara pálida.". Pois é, não é que é mesmo? Saudade, uma palavrinha que só existe na língua portuguesa e que, a cada manhã, arrebata minha vida e me deixa num turbilhão de sensações.

No tempo em que fazia faculdade, lá pelos anos oitenta, gostava, como todo jovem sonhador, de ficar escrevendo versos sem sentido e me achando o máximo, se bem que não tinha coragem de mostrar nada do que escrevia a ninguém. E gostava também de lêr muito. Foi numa dessas leituras que encontrei um texto anônimo sobre saudade que dizia mais ou menos assim "...saudade é vontade de ver de novo." Foi um soco no estômago. Li e reli o texto várias vezes, mostrei aos amigos da faculdade, copiei no caderno e registrei num gravador que tinha. Ninguém, na minha opinião, poderia definir melhor a saudade do que esse cidadão cheio de inspiração e que ninguém tinha notícia dele. Foi, por muitos anos, minha frase favorita. Era tudo que precisava para acalentar meu coração que, ao passar dos anos, viria a conviver com encontros e despedidas, com presenças e ausências, vida e morte. Saudade é vontade de ver de novo. Não precisa explicação. A frase se basta.

 Nestes meus quarenta e poucos anos vividos e revididos "saboreei" muitas saudades. Um amor perdido, um amigo que foi embora, meus pais que partiram pra sempre e muitos sonhos que escorreram pelas mãos sem que pudesse detê-los. Para saudade há outra definição fantástica " saudade é algo que fica de alguém que não ficou." É isso mesmo. Vivemos a procura de alguém, da cara metade, da mulher ideal, do confidente, do amigo exemplar, da melhor música, do livro de cabeceira, dos versos que acalentam, da própria vida. Cada um de nós carrega a sua história e os seus sonhos. Esses sonhos e essa saudade têm a cor da alma de cada um e minha.

Vitória da Conquista, 05 de abril de 2011

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