Pedro Macuco
Meu poema ultrapassa a fronteira da minha rua
e segue firme por caminhos tortos.
Segue por caminhos ali
naquela cidade esquecida do resto do mundo.
Meu poema visita as velhas casas da minha infância
e perfuma minha lembrança desconcertada e triste.
É no meu poema que enxergo meus pais
e o menino que um dia fui e que se perdeu nas entranhas do tempo.
Com pés descalços ando muito e não encontro nada.
Mas ando, recitando meu poema que esqueceu de fazer rimas.
No poema que agora escrevo, relembro o mar azul
e as cachoeiras onde banhei meu corpo magro numa manhã qualquer.
Meu poema faz de mim um sujeito esquálido e vazio
e reescreve minha história em páginas apagadas e amareladas.
Se o poema não me salvar,
salvo as palavras que insistem em batucar na minha cuca.
Vejo cada verso como um suspiro de dor
nesta tarde ensolarada e oca
E aprendo que viver é mesmo uma dor sem fim.
Meu poema faz de mim um homem qualquer
que cansou de dar murro em ponta de faca
e renasce a cada dia sem saber em qual rua seguir.
Abraço meu poema e como um moleque em festa
esqueço de tudo para não doer mais.
Vitória da Conquista, 29 março de 2011